"Ningu&eacute;m termina na ponta dos dedos. Somos o que outros foram. S&oacute; sabemos do vis&iacute;vel, mas temos o mesmo tamanho no invis&iacute;vel. &Eacute; de vidas alheias que nos alimentamos. E as pr&oacute;prias palavras com que digo isto s&atilde;o oferendas, todas elas. Fecha os olhos. Vem comigo."

"As casas s&atilde;o colagens. A praia &eacute; uma colagem. Tudo o que dizemos &eacute; uma colagem. E n&oacute;s pr&oacute;prios, cada um, pais, filhos, av&oacute;s, primos, somos uma colagem. Nunca estamos acabados. Nunca nada est&aacute; acabado. S&oacute; h&aacute; pouco come&ccedil;&aacute;mos a dizer as primeiras coisas."

"&Agrave;s vezes damo-nos conta de algo novo, que j&aacute; estava l&aacute;. &Eacute; esquisito, n&atilde;o &eacute;? Algo novo, que j&aacute; estava l&aacute;. Quando te digo: olha ali o sol a p&ocirc;r-se, o sol j&aacute; l&aacute; estava. J&aacute; estava a p&ocirc;r-se. Mas, porque o viste, &eacute; o primeiro sol. E nunca o sol se tinha posto. Ainda bem que o viste. Ainda bem que me dizes: olha ali."

Concerto para uma Árvore

Fernando Mota