Estranha estranheza a dos lugares
que inventamos para nós
antes os imaginássemos diáfanos
no cinema das noites
mas os lugares que fazemos
tornam-nos adversos
são a nossa eficácia demasiado a nu
tiram-nos a parte principal
da respiração
que é por instantes
faltar-nos o ar
e assim
carne e memória
farão da existência
o mais belo lugar da espera
tendo por única disciplina
a emboscada
ao próprio espanto
levantas uma pedra
depois outra
havia por baixo o que suspeitavas
e o que suspeitavas era já
a elevação da pedra
o cumprimento do seu repouso
a cintilação de todos os olhos
abertos ao mesmo tempo
para ver mexer-se
o que não podia mexer-se
e está bem assim
está bem que nada reste
senão um mealheiro de caroços
para um dia a criança
rachar
e enriquecer de percussão
nunca houve caminho feito
nunca houve quebra-cabeças
tudo esteve sempre à espera
da nossa participação
e é assim que o enigma
se mete dentro de nós
tudo calado
finalmente
nesta nesga de terra
em que me demoro
a servir de testemunha
à história que não é
para contar
mas para ouvir uma única
e irrepetível vez
nesta carne dedilhada
pelo improviso